ESPIRITUALIDADE FRIA

Por Leônidas Almeida

Atualmente passamos por um período de forte descrença institucional. A nossa tão sonhada redemocratização e a avalanche de denúncias de corrupção escancaradas dia a dia pela mídia, deixam qualquer pessoa mais consciente com uma forte desconfiança das instituições, partidos políticos e com os próprios políticos.
Do mesmo modo faço uma avaliação paralela em relação às igrejas cristãs. Infelizmente podemos perceber certo tom de descrença com estas instituições. Em conversas com colegas de trabalho e na rua, logo surgem às mesmas queixas: que as igrejas só falam em dinheiro, seus pastores sonham com o poder, e misturam política com chamado vocacional, as mensagens cristãs mudaram de foco, ao invés da pregação da salvação pela fé, hoje o discurso está muito próximo das filosofias de auto-ajuda, pois o importante é o aqui e agora, tome posse e seja próspero, pastores e igrejas envolvidos até em desvios de verbas públicas. Esta é a regra GERAL: um cristianismo pessoal, formal, legalista, unilateral, não coletivo e pouco solidário e vazio de espiritualidade.
Por outro lado isto é fruto também da crise de valores em função de uma sociedade que a opção pelo ter para depois ser tornou-se uma obsessão, como as Igrejas Cristãs estão inseridas nesta sociedade, passam a ser influenciadas por esta forma de cultura do prazer e do consumo, o que deveria justamente ser ao contrário. Parece que a recomendação de ser sal da terra e luz do mundo, pouco tem de concreto na realidade de muitas igrejas revelando um sabor insípido. “Vós sóis o sal da terra; e se o sal for insípido, com que há de salgar? Para nada mais presta senão para lançar fora, e ser pisado pelos homens.” Mt 5.13  
Uma igreja bastante semelhante como à descrita no livro do Apocalipse, a Igreja de Laodicéia. Esta igreja localizada na rica cidade de Laodicéia, próxima a grande rotas comerciais, cidade rica o opulenta, cidade de banqueiros e de transações comerciais com fortes influências políticas no império romano, ou seja, como hoje muitos “cargos de confiança” a serem politicamente preenchidos.
Deste modo a Igreja estava para cidade, assim como a cidade estava para Igreja, era uma igreja que tinha muitos poderosos no seu rol, celebridades nos bancos da frente, porém no que tange a vida espiritual era uma igreja sem entusiasmo, apenas apegada às tradições, aos festejos, enfim um tipo de cristianismo nominal, profundamente fundamentado numa liturgia vazia e fria de significados, transformando-se numa igreja jactanciosa e que pouco sentia a necessidade de Deus. Deus era apenas lembrado para garantir aquele estilo de religiosidade anêmica, presa apenas aos seus dogmas e tradições, pois perdera seu vigor, valores, vestimentas e todo fervor espiritual.
O Vocalista do U2, Bono Vox, referindo à falta de espiritualidade das igrejas modernas associada a sua acentuada rigidez disse: “Não vejo Jesus Cristo com sendo parte de uma religião. Religião para mim é quase a idéia de Deus indo embora e as pessoas estabelecendo um conjunto de regras para preencher o espaço deixado por ele.”
 Assim boa parte das igrejas atuais estão com características muito próximas como da Igreja de Laodicéa. Isto é um fenômeno mundial que está se inserindo fortemente também aqui no Brasil. A impressão que passa é que o Cristo pregado por grande parte destas igrejas esta do lado de fora e por isso esta igreja precisa urgentemente convidar novamente a Cristo a ser o principal personagem a fim de restaurar seu vigor. Esta igreja se caracteriza por ter uma espiritualidade pobre, sem visão do reino de Deus, tornado-se cega, e seu caráter como referencial profético para sociedade é sua própria nudez, pois nada tem para oferecer a não ser aderir o que já está posto, enfim uma Igreja sem o poder transformador do evangelho, sem mensagem profética, uma igreja conformada com as demandas e ideologias do mundo, sendo a única opção é a simples adesão.
A solução para esta Igreja morna, deve passar por cada um de nós, pois Cristo nos chama em primeiro lugar para mudança de vida e isto significa rever valores. Em segundo lugar Cristo chama esta Igreja para uma espiritualidade mais profunda e isto requer como prioridade a comunhão com ele. Cabe a cada um de nós uma decisão, uma escolha, um caminho em face ao apelo do Senhor: Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo”, Ap 3:20.
O texto, ora citado, embora muitas vezes utilizado por pregadores para pessoas que não conhecem a Cristo, na verdade deveria ser constantemente utilizado para todos que se dizem cristãos, pois é um convite para um relacionamento íntimo e pessoal, pois é na casa que nossa intimidade é revelada, é na casa que somos realmente quem somos, é na casa que se exibem nossos pecados e nossos segredos, onde nossos verdadeiros pensamentos são expostos e somos quem verdadeiramente somos.
Agora uma oportunidade de ouro para cada um de nós: Somos convidados pelo próprio Cristo para cear com ele. Lembro da alegria de Zaqueu, um pecador e coletor de impostos, corrupto, ladrão e considerado traidor pelos seus compatriotas, pois além de recolher tributos, parte desta renda recolhida ia parar no seu bolso, mas que ao ser convidado por Cristo foi cear com ele, pois reconheceu sua desnutrição espiritual, possuía tudo, mas lhe faltava à verdadeira paz em função de uma consciência atormentada pela culpa. Após esta refeição Zaqueu foi transformado e passou a rever toda sua conduta diante de Deus, do próximo e da sociedade.

Esta canção do Tiago Viana, "Quem não quer", faz uma forte denúncia pela necessidade do retorno a essência da fé cristã autêntica numa visão a partir do Cristo encarnado que morou e habitou entre nós, sendo assim nosso referencial de vida.



 

Comentários

  1. Grande Leonidas e suas visões consistentes do reino! Belo texto... sucesso no blog
    abrs.. Jeferson

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