Tempo de poesia: Quem sou eu?


Por Leônidas Almeida




Quem sou eu?
Seguidamente me dizem
Que deixo a minha cela
Sereno, alegre e firme,
Qual dono sai do seu castelo.



Quem sou eu?
Seguidamente me dizem
Que falo como os que me guardam
Livre, amável e com clareza,
Como se fosse eu a mandar.


Quem sou eu?
Também me dizem
Que suporto os dias do infortúnio
Impassível, sorridente e altivo,
Como alguém acostumado a vencer.

Sou mesmo o que os outros dizem ao meu respeito?
Ou sou apenas o que eu sei a respeito de mim mesmo?
Inquieto, saudoso, doente, como um pássaro na gaiola,
Respirando com dificuldade, como se me apertassem a garganta,
Faminto de cores, de flores, do canto dos pássaros,
Sedento de palavras boas, de proximidade humana,
Tremendo de ira por causa da arbitrariedade e ofensa mesquinha,
Irrequieto à espera de grandes coisas,
Em angústia impotente pela sorte de amigos distantes,
Cansado e vazio até para orar, para pensar, para criar,
Desanimado e pronto para me despedir de tudo?

Quem sou eu?
Este ou aquele?
Sou hoje este e amanhã um outro?
Sou ambos ao mesmo tempo?
Diante das pessoas um hipócrita?
E diante de mim mesmo um covarde queixoso e desprezível?
Ou aquilo que ainda há em mim será com um exército derrotado,
Que foge desordenado à vista da vitória já obtida?

Quem sou eu?
O solitário perguntar zomba de mim.
Quem quer que eu seja, ó Deus, tu me conheces.
Sou teu.


Autor: Pr. Dietrich Bonhoeffer
Campo de concentração em Tegel no ano de 1.944, durante o Regime Nazista.

Vídeo: Música: Stênio Marcius - Alguém como eu 


 

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