Por uma espiritualidade que busca a essência ao invés da aparência.
Por Leônidas Almeida
TEXTO: MC 7.14-23
Jesus chamou novamente a multidão para junto de si e disse: "Ouçam-me todos e entendam isto:não há nada fora do homem que, nele entrando, possa torná-lo ‘impuro’. Pelo contrário, o que sai do homem é que o torna ‘impuro’. Se alguém tem ouvidos para ouvir, ouça! "
Depois de deixar a multidão e entrar em casa, os discípulos lhe pediram explicação da parábola. "Será que vocês também não conseguem entender? ", perguntou-lhes Jesus. "Não percebem que nada que entre no homem pode torná-lo ‘impuro’? Porque não entra em seu coração, mas em seu estômago, sendo depois eliminado".
Ao dizer isto, Jesus declarou "puros" todos os alimentos. E continuou: "O que sai do homem é que o torna ‘impuro’. Pois do interior do coração dos homens vêm os maus pensamentos, as imoralidades sexuais, os roubos, os homicídios, os adultérios, as cobiças, as maldades, o engano, a devassidão, a inveja, a calúnia, a arrogância e a insensatez. Todos esses males vêm de dentro e tornam o homem ‘impuro’ ".
É muito comum as pessoas serem identificadas como sendo de determinada religião via as diversas formas externas de expressão: Vestimentas, tipos de comida, bebida, apresentação pessoal, rituais repetitivos, expressões orais, etc. Faça um esforço mental e associe as diversas vestimentas e formas de alimentação com determinadas religiões e você poderá diferenciar várias religiões, inclusive dentro do próprio cristianismo, simplesmente pelas suas manifestações exteriores.
No texto, ora citado, Jesus desassociou qualquer tipo de formas externas com a espiritualidade interior da pessoa, em geral, as religiões procuram associar a pureza com manifestações exteriores fazendo um rompimento do interior, ou seja do coração, com o exterior. Então atitudes e manifestações pessoais externas passam a ser referenciais de pureza. Como a sociedade também busca a imagem, como forma de expressão e afirmação da identidade pessoal, qualquer tipo de ação que contradiz o modelo dominante passa a ser um fenômeno de busca de santidade e perfeição.
Um dia destes ao assistir um determinado programa de televisão, o pregador chegou a dizer que na passagem referente ao primeiro milagre de Jesus, numa festa de casamento, tentando "purificar o texto e santificar o Cristo", separando sua pessoa com a imagem negativa que o próprio pregador tinha a respeito da bebida (Vinho), este então disse: Jesus transformou água, em um saboroso "suco de uva".
Esta tentativa de ligar questões de purificação a todas formas exteriores de manifestação religiosa, é uma forma inútil do ser humano de produzir um caminho de auto-purificação por meios externos, purificação esta que poderá ser alcançada pela rígida disciplina, como não comer ou beber determinados alimentos e ainda diversos rituais de auto-purificação. Jesus de forma pedagógica e racional põe um ponto final no assunto, ao afirmar que tudo que entra pela boca irá para o estômago e ao final todos os tipos de alimentos, será eliminado da mesma forma, e na mesmas condições. Assim nenhum tipo de restrição ou adoção de determinado alimento em nossa dieta poderá proporcionar algum benefício direto em relação a espiritualidade, pois qualquer tentativa neste campo será ineficaz em relação aos pecados que são originários do nosso interior, fruto de uma natureza humana caída. A Teologia Paulina confirma este direcionamento dado por Jesus, conforme o texto de Cl 2.20-23(Viva) a seguir:
Já que vocês, por assim dizer, morreram com Cristo, e isto os libertou de seguirem as idéias do mundo sobre a maneira de ser salvo - fazendo o bem e obedecendo a diversos preceitos - por que de alguma forma continuam seguindo justamente isso, ainda presos a preceitos tais como: não comer, não provar ou nem mesmo tocar determinados alimentos?
Tais preceitos são meros ensinamentos humanos, pois o alimento foi feito para ser comido e consumido. Estes preceitos podem parecer bons, pois prescrições deste tipo exigem uma devoção séria e são humilhantes e duras para o corpo, porém não têm efeito algum quando se trata de subjugar os maus pensamentos e desejos duma pessoa. Ela só se torna orgulhosa com tais prescrições.
Portanto é do coração é que procedem os maus desígnios, e qualquer medida de purificação exterior, será pura ação paliativa na busca de processo mecânicos e artificiais para auto-santificação. Assim este tipo de auto-purificação certamente conduzirá a uma forma de hipocrisia religiosa, a qual é motivada para que não venha a público o pecado e seja manifesta a incapacidade pessoal de se auto-purificar.
Infelizmente parece que toda vez que o ser humano não consegue resolver um problema, indo a sua raiz, sempre procura atalhos, falseando sua verdadeira identidade e criando novas fórmulas mágicas e alternativas para manifestações religiosas que passam a ser diversas e alienadas da realidade, pois na medida em que a fuga do EU interior, desconectado do EU exterior, acabamos desenvolvendo um tipo de personagem e passamos a viver distanciado de nós mesmos, de Deus e dos outros.
Assim o religioso desconectado de si mesmo ao ser confrontado com suas limitações pessoais procura desenvolver formas exteriores de purificação para que de alguma forma consiga ser aceito pelo Divino e respeitado pelos seus semelhantes, como alguém de grande espiritualidade. Segundo o teólogo Karl Barth, a religião na tentativa humana de entrar em comunhão com Deus por conta própria passa a ser um construto humano. Neste sentido a religião perde seu valor teológico, pois uma verdadeira religiosidade é possível quando surge a partir da fé.
Portanto a verdadeira espiritualidade não será ritualística e muito menos cerimonialística, pois o desenvolvimento da espiritualidade é incondicionada ao meio externo, pois os maus desígnios procede essencialmente do interior. O ritualismo tem pouco valor diante de Deus, pois Deus vê o coração humano e conhece todos seus desígnios. Qualquer tentativa de associar pureza do coração com tipo de alimentação ou bebida é pura religiosidade legalista, pois não devemos declarar impuro o que o próprio Deus tornou puro.
Segundo o Rev. M Lloyd-Jones existe um tipo de espiritualidade que leva a uma forma de hipocrisia inconsciente, "a qual se manifesta quando um indivíduo não somente engana os outros, mas engana a si próprio, quando um homem não só persuade erroneamente a outros, acerca de sua pessoa, mas quando chega a persuadir-se erroneamente a si próprio." Assim uma espiritualidade positiva deve unir a pessoa consigo mesma, o consciente com o inconsciente, o pensar com o sentir.
A minha oração é que possamos nos reconhecermos como pecadores necessitados da graça e do perdão Divino, qualquer tentativa de fuga de si mesmo, é caminhar numa trilha de religiosidade vazia e castradora dos verdadeiros significados da vida e do evangelho. Somente o Eu liberto pela Cruz, poderá produzir uma forma autêntica de religiosidade, bem como consciência do pecado e a necessidade da graça, sendo que esta não será sustentada por atos externos de justiça própria, uma vez que não é nós que caminhamos num processo de auto-purificação em direção a Deus, mas a vinda de Deus a nós em Cristo, o cordeiro de Deus, único que possui o poder purificador e restaurador para nossas vidas.
"Deixa eu amar a Deus da minha maneira de amar" - Wanda Sá. Ouça esta linda canção com Wanda Sá - Apaixonada.
Muitas vezes a religiosidade esta em quem nos ve e nos rotula pelo que escolhemos seguir, mesmo quando nao queremos levantar bandeiras ou partidos fazem isso por nos, se alargamos nossos horizontes explorando areas inospitas de nosso ser, mas plenamente alcançavel pela graça atraves de nossA fe em Cristo Jesus somos medidos e pesados por algum padrao que nao foi estabelecido por Deus. Isso e o que a religiosidade faz, ela pode vir de dentro do individuo tornando-o arrogante e pretencioso em relaçao ao evangelho, ou de fora, bombardeando aquele que quer oferecer a Deus a sua propria essencia.(editor de textos sem acentuaçao)
ResponderExcluirCaro Anônimo. A questão colocada por você foge da abordagem tratada neste texto, me pareceu que você expôs sua idéia pessoal daquilo que entende como sendo "religiosidade", no entanto neste post procurei fazer uma abordagem do texto em MC 7.14-23. Enfim o que Jesus entende como sendo "hipocrisia religiosa". De qualquer forma segue minhas considerações: As vezes também é importante uma avaliação pessoal a luz das Escrituras a luz da dinâmica do Espírito a respeito daquilo que você entende como sendo "as pessoas que o rotulam", devemos manter um diálogo com estas pessoas sem fazer juízo de valor de forma precipitada, pois muitas vezes também podemos estar sendo movidos por pura vaidade pessoal. Entendo que fazer uma escolha pelo simples fato de ser diferente, é perigoso, pois também rotulamos os que nos rotulam. Neste sentido poderá ocorrer o que citei como sendo "hipocrisia religiosa inconsciente", pois somos também suscetíveis ao erro, e pior, com ar de autenticidade e vanguardismo, mas não passa de discurso vazio, os chamados "SOFISMAS", que podem nos levar ao erro. O importante e ser sensível ao Espírito de Deus e sempre termos como alicerce a palavra de Deus, e isto requer maturidade e devoção diária nas Escrituras em espírito de oração. Outro aspecto é estarmos dispostos a sermos questionados em humildade e nunca com soberba e dispostos a sempre fazer reavaliações em nossa caminhada de Fé. Que Deus te abençoe e o Espírito te guie em Paz.
ResponderExcluirLeônidas Almeida