Companheiros de Luta

Por Joel Boa Sorte


 
         Apóstolo de todos os tempos, Paulo de Tarso, detestava andar só. O certo é que esse corajoso mártir do primeiro século da era cristã desistiu de uma oportunidade missionária porque não quis enfrentá-la sozinho.

        Não era do feitio do missionário veterano deixar passar uma chance. Esse obreiro vivia para trazer homens e mulheres a Jesus. Mas ele chutou a oportunidade porque não conseguiu achar um amigo para acompanhá-lo.
        O que foi Paulo? Solidão? Desânimo? Exaustão? Precisava de apoio? Precisava de alguém para escutá-lo? Precisava das orações de um irmão?
        Qualquer que seja o motivo, o fato é que o apóstolo poderoso deu para trás. Ele saiu da linha de frente, como ganso líder sai quando cansa. Arrumou as malas e saiu da cidade. Ele não conseguiu lidar com isso. Não naquela ocasião. Não sozinho.
        Você percebe isso em suas palavras. E o que não está explícito, lê-se nas entrelinhas.
        Quando cheguei a Trôade para pregar o evangelho de Cristo e vi que o Senhor me havia aberto uma porta, ainda assim, não tive sossego em meu espírito, porque não encontrei ali meu irmão Tito. Por isso, despedi-me deles e fui para a Macedônia. (2Co 2.12.13).
        Ele não encontrou seu companheiro, portanto, cancelou o plano.
        E Jesus não era diferente, por único que ele fosse, por gigante que ele fosse. Ele escolheu não andar sozinho. O Senhor insistiu em ter um grupo. Ele já começou seu ministério com uma equipe. “Escolheu doze, designando-os apóstolos, para que estivessem com ele” (Mc 3.14).
        Jesus iniciou com uma comunidade. Uma pequena fraternidade. Ele quis que esses camaradas aprendessem a viver juntos. Antes que pudessem pregar, eles tinham que “estar com” ele e uns com os outros. E quando, por fim, ele os mandou sair para pregar, insistiu que fossem, pelo menos, “de dois em dois”. Jesus não lhes disse que precisavam de malas, ou de cartão de crédito, ou de um par extra de meias. Mas que eles precisavam de um companheiro. Disse-lhes para que saíssem juntos e voltassem juntos.
        Jesus começou e terminou dessa maneira. Quando o Deus feito homem concluiu seu ministério terrestre, ele o fez junto com sua comunidade. Em sua última noite com os discípulos, acho que o coração de Jesus quase se despedaçou ao ver que eles se esforçavam para perseverar com ele. Foram momentos importantes. Ele estava perto do fim. E ele queria que seus amigos o acompanhassem. Quando somos pressionados pela situação queremos que os companheiros de luta estejam ao nosso lado. No início. No final. E nos intervalos que, às vezes, são de despedaçar o coração.
        Jesus não queria ir sozinho. Às vezes, acho que os anjos ministraram a Jesus em alguns de seus momentos difíceis porque nenhum deles estava lá.
        O Senhor queria que seus amigos, especialmente o grande pescador, estivessem com ele no fim. E ele disse isso de maneira clara para os apóstolos. Ele disse para Pedro: “Vocês não puderam vigiar comigo nem por uma hora?”.
        Em outras palavras: Pedro, você não conseguiu me fazer companhia justo nesta noite mais que em todas as noites? Você não podia me oferecer um ombro em que eu pudesse me encostar um pouco? Você não pode ficar comigo, meu amigo? Apenas saber que você estava firme ali comigo significava muito para mim.
        Apenas poucas horas antes daqueles momentos sombrios no jardim, ele reunira sua comunidade de cavaleiros enferrujados ao redor da mesa. Com palavras carregadas de emoção, ele disse: “Desejei ansiosamente comer esta Páscoa com vocês antes de sofrer” (Lc 22.16).
        Imagine a cena. Jesus olhou os amigos sentados ao redor da mesa, ele deixou que seus olhos encontrassem os deles, um de cada vez, com afeto amadurecido pelos anos. A seguir, ele disse aos apóstolos: “Não comerei dela novamente até que se cumpra no Reino de Deus” (Lc 22.16).
        Nesses dizeres: Vocês significam o mundo para mim. Tanto é assim, que eu não farei isso de novo até que estejamos juntos outra vez. No mundo verdadeiro. Na casa de meu Pai.
        Está sendo cada vez mais difícil encontrá-los e ninguém é obrigado a ter um milhão de amigos, mas como é bom ter pessoas confiáveis, para que nos momentos da alegria ou da dor a gente possa conversar, sorrir e se precisar, porque não também, abrir o coração e dividir a carga.
        De fato, os momentos piores de Jesus foram os momentos em que estava sozinho. Até seu Pai o deixou sozinho por um momento, quando ele estava pendurado na cruz. Foi um tormento.
        Caminhar sozinho de fato é um horror. Os homens não foram feitos para viver sós.

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