Por uma espiritualidade que busca a essência ao invés da aparência II



Por Leônidas Almeida


         Recentemente tenho lido alguns textos e frases preconceituosas contra os religiosos ou qualquer tipo de religiosidade, como se tais pessoas pudessem afirmar categoricamente o significado de uma busca autêntica, como se colocassem num patamar superior de espiritualidade, em relação daquilo que qualificam pejorativamente de religiosidade, ou talvez pela simples ignorância do tema ou apenas fazer barulho a fim de atrair pessoas com discursos com aparência de modernidade.  Neste sentido cabe a advertência constante em Tiago que pede um espírito de temperança por parte deste tipo de visão exclusivista da fé: "Se alguém entre vós cuida ser religioso, e não refreia a sua língua, antes engana o seu coração, a religião desse é vã." Tiago 1.26

         Em geral estas críticas tem ocorrido do próprio meio religioso, como se houvesse um grupo ou determinada comunidade de fé que não fosse religiosa, como se  o conceito de religião não estivesse relacionado a um pressuposto existencial de uma busca de sentido para vida e um entendimento do significado da morte, envolvendo questões relativas a salvação da alma e do corpo. Deste modo gostando ou não, todo grupo que busca encontrar o sentido da vida, sempre será um grupo religioso e sempre se utilizará de uma linguagem simbólica, pois o sagrado ou a Divindade não poderá ser totalmente revelada a partir de uma existência limitada e finita. Veja parte do Texto - Ateucracia e Heterofobia (1) - do eminente teologo Robison Cavalcanti acerca desta onda anti-religiosa e suas consequencias:
"O Estado secularista expressa uma ideologia militante de rejeição da religião, de sua negação como fato social, cultural e histórico, ou a considerando intrinsecamente negativa. No passado, tivemos a influência da filosofia positivista que, com sua “lei dos três estados”, advogava a marcha inexorável da história de uma etapa religiosa inferior para uma etapa superior, pretensamente científica ou positiva.


Há todo um malabarismo intelectual para “explicar” essa anomalia, e, por outro lado, se procura promover um combate sistemático para contê-la. O antirreligiosismo teve como epicentro a Europa Ocidental, estendeu-se para a América do Norte, e se espalha pela periferia do sistema mundial, chegando até nós.
Há uma prioridade de se atacar as religiões monoteístas de revelação, porque julgam que o monoteísmo promove a intolerância e a revelação traz conceitos e preceitos autoritativos retrógrados (o pecado, por exemplo) que se chocam com as visões tidas como superiores da autonomia das criaturas. Mais particularmente, esse ataque se centra contra o cristianismo". 

         Todas as religiões sempre estarão se apresentando com um código de uma conduta moral e uma reflexão ética representada por virtudes, solidariedade e amor. A religiosidade passa a ser negativa quando esta enfatiza somente questões ligadas ao moralismo e a legalismos, onde estes perdem o sentido em si mesmos. Esta religiosidade foi bem exemplificado por Jesus, quando seus discípulos são questionados pela necessidade de lavar varias vezes as mãos e a guarda idolátrica do sábado, mesmo quando neste dia houvesse a necessidade de fazer determinado bem a uma pessoa. Neste ponto procurei dar maior ênfase no primeiro texto conforme o link ao lado.

         Assim quando  a religiosidade de determinada pessoa fica restrita somente a questões de natureza moral, ao invés desta religiosidade ser vista de forma mais ampla, como a solidariedade ao próximo e a sociedade, esta religiosidade torna-se restritiva e alienada e até mesmo auto-destrutiva como é descrita no texto de Tiago1.27 " Para Deus, o Pai, a religião pura e verdadeira é esta: ajudar os órfãos e as viúvas nas suas aflições e não se manchar com as coisas más deste mundo." Enfim não basta apenas buscar a santidade em relação a não absorver o modo de vida mundano, mas também se comprometer com as necessidades do próximo.



         Neste sentido, o teólogo Kierkegaard (1813-1844) diferencia dois tipos de religião. A primeira é universal e concebida em termos imanentes - frequentemente denominado de "religisidade a" - onde o ser humano está consciente do divino e tenta cumprir a todo custo suas exigências. O segundo tipo, a chamada "religiosidade b", é identificada com o cristianismo e tem como traço fundamental a relação do indivíduo com o paradoxo do Deus-Homem. Portanto diferente da "religiosidade a", pois neste entendimento o indivíduo possui tanto consciência do pecado quanto a necessidade da graça.



         Assim do ponto de vista da teologia cristã, por vezes não é considerado enquanto religião (reliosidade a), uma vez que não diz respeito à busca do ser humano por Deus, mas da recepção da salvação que é oferecida gratuitamente, no entanto esta graça também deverá reverter em boas obras, ou seja também deverá se manifestar do ponto de vista moral e ético (religiosidade b). Paulo mostra um tipo de correlação que deve existir  em relação a salvação, fé e obras. Ef 2.8-10" Pois pela graça de Deus vocês são salvos por meio da . Isso não vem de vocês, mas é um presente dado por Deus.  "A salvação não é o resultado dos esforços de vocês; portanto, ninguém pode se orgulhar de tê-la"Pois foi Deus quem nos fez o que somos agora; em nossa união com Cristo Jesus, ele nos criou para que fizéssemos as boas obras que ele já havia preparado para nós."



         Em suma o importante é que não devemos nos auto-colocar como os Mestres dos Mestres nesta matéria de fé e religiosidade, cada comunidade tem sua forma típica de lidar com sua liturgia, no sentido que esta liturgia aponte e rememorize a relação do Homem com Deus e principalmente a Revelação de Deus ao homem em Cristo Jesus. Nossa religiosidade parte da busca desta comunhão com Deus, parte do momento quando o Espírito de Deus em nós revela sua divindade e derrama sua graça em cada um de nós, neste momento somos confrontados com nossos pecados e consolados pelo seu perdão, nossas emoções são mais sensíveis e produz em nós transformações profundas, que para nós passa ser um tipo de religiosidade que busca a essência ao invés da aparência.



Esta canção mostra a necessidade do fiel a ser movido ao encontro com Deus e derramar seu coração, onde o local "a capela" é parte integrante desta busca e não o fim em si mesma.

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