A importância e relevância da Igreja no mundo contemporâneo.



Por Leônidas Almeida


            Muitos amigos costumam me questionar porque perco meu tempo trabalhando ou envolvido com uma determinada comunidade de fé (Igreja), não seria mais produtivo gastar os finais de semana com a família ou com o próprio lazer? Ou até mesmo me dedicar numa alternativa de melhorar a renda? Sempre ao ser questionado em relação a isto, às vezes, acabo também me questionando, vale a pena me dedicar numa Igreja? Como todas as Instituições também na Igreja tem suas lutas políticas, suas competições pelo poder, pessoas são discriminadas em relação às outras, seja por poder econômico, ou seja por interesses ministeriais por parte do pastor, pastores são deslocados a contra gosto, outros removidos por necessidade, outros adequados devido a determinações superiores, isto tudo sem contar os diversos problemas que são capas de jornais e noticias de tevê, tanto em igrejas evangélicas, assim como no meio católico, em ocorrências de: abuso sexual, pedofilia, etc. Enfim, caso você comece a ver os problemas negativos, realmente tenho que concordar com os amigos não frequentadores, que é melhor aproveitar seu tempo com outras coisas, além do mais qual Instituição não tem desvios? Atualmente as ONGs tornaram-se o foco de desvio de recursos por autoridades públicas, porém é necessário discernimento e procurar separar o joio do trigo sempre.

            Neste texto procuro responder aquilo que entendo como o que realmente poderia dar maior significado para que uma pessoa possa sair de casa com sua família e passar a frequentar a uma determinada igreja cristã (Evangélica, Católica e Novas Comunidades Cristãs de fé). Apenas faço alguns esclarecimentos devido à forma mais técnica do texto, pois o mesmo é parte do meu trabalho de conclusão do curso de Teologia, onde procurei me debruçar a respeito deste tema. O tema é interessante, pois o número dos desigrejados, principalmente entre evangélicos e católicos não praticantes, tem subido bastante conforme recente pesquisa do IBGE.
             Os acontecimentos ocorridos no mês de abril de 2011 na Escola Municipal Tasso da Silveira, no bairro de Realengo, zona oeste do Rio de Janeiro, onde onze pessoas foram mortas, entre elas dez crianças, por um atirador, vêm demonstrar a importância e relevância da ação da igreja local. Logo após o ocorrido, uma igreja vizinha à escola, resolve abrir suas portas para oferecer aos familiares das vítimas a disponibilidade de profissionais de diversas áreas para dar apoio àquela comunidade. Portanto, uma igreja que tem uma visão não voltada para si mesmo pode em muito contribuir para sua comunidade local bem como para toda uma sociedade em processo de transformação social.
A igreja deve ter consciência da influência do seu papel como comunidade terapêutica. Esta deve ser definida a partir da transcendência da solidariedade humana[1] como comunidade de fé. Isto significa que esta comunidade será autêntica quando o ser humano se dispõe livremente numa entrega pessoal a serviço do outro e conseqüentemente passa a entender a si mesmo como pessoa humana.
Esta forma de compreensão dará oposição ao conceito de sociedade, quando esta é definida, segundo a doutrina utilitarista proposta por J Bentran e J S Mill, simplesmente como ajuntamento artificial de homens com características utilitárias voltadas somente para o auto-interesse em busca da auto-satisfação. Este conceito utilitarista racional associado às convenções de interesses recíprocos face às relações de troca foi o marco teórico para sustentação do capitalismo moderno[2]. Assim, uma Igreja não deve ser vista como uma sociedade de interesses e lazer, equiparado a clubes, ou uma sociedade de indivíduos superiores, como ocorre em algumas sociedades secretas e restritas a determinado tipo de pessoas. Uma Igreja deve ser inclusiva, para todos que buscam o reino de Deus.        
Para o teólogo Jürgen Moltmann[3], o significado do sentido da igreja deve ser vista como um organismo com pequenos grupos íntimos, os quais ligados em conjunto, tornam-se como as ligas que unem os tijolos do edifício como um todo que irão compor a sociedade. Neste ambiente de proximidade e vizinhança, a igreja passa a ser como um ambiente equiparado ao lar, ou seja, uma comunidade unida, repleta de afetividade, apresentando-se para sociedade como uma comunidade autêntica com plenitude de sentidos, tornando-se uma espécie de arca de Noé, que acolhe vidas em meio ao caos e indiferença do ser humano socialmente alienado. Fico hoje vendo estes mega templos, onde uma pessoa é apenas mais um, e nada mais, um mero número estatístico para o deleite dos seus líderes, que visualizam a Igreja equiparada a uma empresa competitiva, mais próximo do conceito de“Pequenas Igreja e Grandes Negócios”, onde o indivíduo é apenas uma estatística em meio a multidão, em meio a solidão da fé.


Neste sentido é possível visualizar o cristianismo como ponto de integração entre pessoas que em unidade podem proporcionar um contrapeso para forças de destruição e geradoras de crise que atuam na vida humana. Deste modo, a igreja deve ser vista como “genuína comunhão”, como “igreja do Espírito”, como “comunidade pneumática de pessoas”, como “comunidade da fé” e “comunidade terapêutica” (MOLTMANN, 2005, p. 399). Assim, a importância do papel da igreja na poimênica (aconselhamento e cuidado) e na busca pelo envolvimento de todos em amor para que todos acolham e sejam acolhidos em suas necessidades materiais, emocionais, psíquicas e espirituais.
            Aqui também deve salientar o papel da igreja diante das crises humanas, na missão de intervir no sentido do resgate integral da pessoa humana como comunidade de assistência, libertação e cura do corpo e da alma e contribuir para o equilíbrio da psique do homem no seu multirelacionamento com a família, trabalho, sociedade civil e política para que o mesmo possa viver na plenitude da vida proposta por Cristo constante no evangelho de João “O ladrão não vem senão a roubar, a matar, e a destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância. João 10:10
            Concluo apenas dizendo que,  se a comunidade em que você participa está sendo um peso na sua vida, apenas tarefas e tarefas sem sentido, trabalhos que levam nada a lugar nenhum, reuniões longas e cansativas que levam a discussões infrutíferas e até mesmo dissenções entre os membros, “eu mesmo já quase apanhei numa destas reuniões com pessoas que se intitulam como “altamente espirituais”, pregações repetitivas, que abordam de formas diferentes sempre o mesmo tema: Dinheiro, dinheiro e dinheiro, que pouco tem edificado sua vida espiritual, que resulta numa experiência de fé alienada e não contextualizada com os desafios e as demandas do mundo em que vivemos. Caso isto tem sido sua rotina em sua comunidade de fé, então você também deve se questionar, até porque muitas vezes a cegueira espiritual está em nós mesmos e precisamos nos preparar para mudanças, novas perspectivas devem alimentar nossa fé pela utopia do Reino de Deus. Gosto muito da ênfase que os textos bíblicos abordam acerca do que deve ser o Reino de Deus em nossa vida e para nossa experiência numa comunidade de fé. Então vejamos:

1)      O reino de Deus não deve apenas estar centrado na sabedoria humana, no jogo do marketing, mas acima de tudo no Poder de Deus.
 Porque o reino de Deus não consiste em palavras, mas em poder.1 Coríntios 4:20

2)     A motivação de nossa ida a igreja não deve estar centrada apenas em nossas necessidades imediatas, pois Deus nos conhece e sabe o que necessitamos, portanto não barganhe com Deus e não deixem as pessoas te manipularem neste sentido.
Buscai antes o reino de Deus, e todas estas coisas vos serão acrescentadas. Lc. 12:31
3)     Nossa ida a comunidade de fé não deve ser apenas um dever, peso e obrigação, mas devemos ir com alegria de estarmos unidos em fé diante de Deus.
Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo. Rm. 14:17

4)     A comunidade de fé deve levar às pessoas a experiência do novo nascimento, o novo homem que vive para uma nova vida na presença de Deus.
Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. Jo. 3:5ã
Outras questões são importantes para análise deste tema, mas o espaço aqui é restrito e não permite maiores delongas, certamente em outras oportunidades poderemos continuar discorrendo acerca do tema.

Ouça esta linda canção de Guilherme Kerr a respeito do nascimento da Igreja: Unidade e Diversidade.



Referências bibliográficas
CLINEBEL, Howard J. Aconselhamento pastoral: modelo centrado em libertação e crescimento. Trad. Walter O. Schlupp e Luís Marcos Sander. São Leopoldo: Paulinas, 1987.
MOLTMANN, Jürgen. Teologia da esperança. 3. ed. São Paulo: Teológica/Edições Loyola, 2005.
[1] Definição dada por Jürgen Moltmann (2005, p. 394), quando a comunidade de fé em que o ser humano, pela entrega de si mesmo ao outro, volta-se a si mesmo.
[2] A sustentação teórica do capitalismo moderno decorre da escola liberal, clássica ou individualista surgiu com as obras de Adam Smith e David Ricardo, onde o progresso econômico e social resulta exclusivamente da iniciativa individual, doutrina denominada do laisses-faire “clássica metáfora de Adam Smith sobre a ‘mão invisível’ refere-se a como o mercado, sob condições ideais, garante uma alocação eficiente de recursos escassos. PETRELI, 2005, p. 50
[3] J Moltmann  é um dos teólogos europeus mais inovadores da atualidade. Habilitado para área de docência em História do Dogma e Teologia Sistematica, foi professor de Teologia Sistemática na Universidade de Bonn. MOLTMANN, 2005, p. 11


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