CRISES DA FÉ
Por Teol. Leônidas Almeida
Jesus
perguntou ao pai do menino: "Há quanto tempo ele está assim? "
"Desde a infância", respondeu ele. "Muitas vezes o tem lançado no fogo e na água
para matá-lo. Mas, se podes fazer alguma coisa, tem compaixão de nós e
ajuda-nos. " "Se podes? ", disse Jesus. "Tudo é possível àquele que
crê. " Imediatamente
o pai do menino exclamou: "Creio, ajuda-me a vencer a minha incredulidade!
" Mc 9.21-24.
Muitas vezes diante de um infortúnio como doenças e outros problemas
graves que somos expostos, ficamos abatidos como este pai, até mesmo intimidados
pela nossa incredulidade. Ontem estava numa reunião de oração quando uma mãe
trouxe sua filha, disse que apesar de ter ido a diversos médicos a menina
continuava com o mesmo problema, a criança perdia o sentidos e desmaiava por
diversas vezes ao dia. Pensei: Senhor se este fato estivesse ocorrendo na minha
casa, qual seria minha atitude? Minha fé estaria abalada? Como enfrentaria este
problema? Estaria preparado para viver este dilema? Percebi a dor e o desespero
daquela mãe e juntamente com aqueles irmãos fizemos um forte clamor comunitário
em favor daquela criança.
Do mesmo modo como o pai relatado no
texto acima, que sofria com o problema do filho "desde a infância", convivendo
entre a fé e ao mesmo tempo com a incredulidade, chegando até a possibilidade e
medo de "perder a fé". Então o que fazer? Devemos temer a dúvida? Segundo
o teólogo Paul Tillich, a "dúvida é componente da fé; a fé abarca a
dúvida! A fé transcende a razão, envolvendo elementos conscientes e
inconscientes, racionais e irracionais; a fé é um ato da pessoa inteira, é um deixar-se
possuir pelo que nos toca incondicionalmente, ela é composta pela totalidade do que somos, com todas nossas
ambiguidades".
Diante da complexidade daquela
enfermidade que solapava seu filho, apesar daquele pai ainda possuir fé em
Jesus, ao mesmo tempo era atormentado pela incredulidade, pois até mesmo os
discípulos de Jesus não conseguiram resolver o problema que enfrentava: "Depois de Jesus ter entrado em casa, seus discípulos
lhe perguntaram em particular: "Por que não conseguimos expulsá-lo? "Vs.28. Muitas vezes também nos sentimos assim em meio as nossas crises,
ora tendo muita fé, ora tendo fé nenhuma. Então como proceder diante deste
dilema?
Em primeiro lugar precisamos entender
que este dilema faz parte da nossa própria humanidade, não temos como fugir,
não somos super-heróis, por mais que cremos na palavra de Deus somos homens e
mulheres limitados, assim podemos aprender até mesmo com a dúvida, pois ela nos
revela nossa pequenez como seres necessitados de irmos a Jesus e dizer como
aquele pai: "Creio,
ajuda-me a vencer a minha incredulidade! "
Assim a dúvida ao invés de nos afastarmos
do Senhor, deve nos levar para perto dele com mais intensidade, para que em
meio aos nossos temores, seja aberta a possibilidade do "tudo é possível
ao que crê". Então o problema da dúvida, para o teólogo P Tillich, "nos
desafia para que se busque conhecer o Deus para além das projeções e das
certezas fabricadas no desamparo, para além da própria capacidade de pensar".
Entendo que a dúvida não deve nos paralisar,
apesar de ser um sinal de nossa fraqueza, ao mesmo tempo pode ser um novo caminho
para a vitória. Isto requer de nós espírito de humildade, saber que não temos o
controle de nada em nossa vida, nem mesmo da fé que muitas vezes professamos orgulhosamente
aos outros com superioridade e arrogância.
Finalmente é entender que apesar das
nossas ambiguidades entre a fé e a dúvida, certamente quem poderá nos conduzir em
meio a toda sorte de opiniões contrárias e desfavoráveis a nós é o Senhor, pois ele terá a ultima palavra em nossa vida e não o homem: "O espírito gritou, agitou-o violentamente e saiu.
O menino ficou como morto, a ponto de muitos dizerem: "Ele morreu". Mas
Jesus tomou-o pela mão e o levantou, e ele ficou em pé."Mc. 9.25-26
A minha oração é que tenhamos esta
consciência que podemos exercitar nossa fé em meio as circunstâncias negativas
da vida, principalmente enfrentando nossas fraquezas, para que o poder de
Cristo nos aperfeiçoe: "De todos os lados somos pressionados, mas não desanimados; ficamos
perplexos, mas não desesperados; somos perseguidos, mas não abandonados;
abatidos, mas não destruídos.Trazemos sempre em nosso corpo o morrer de Jesus,
para que a vida de Jesus também seja revelada em nosso corpo."2 Co 4.8-10
Ouça esta linda canção com Thalles Roberto - Maravilha - Lembre-se: A ultima palavra é do Senhor.
Notas Bibliográficas
Paul TILLICH, Dinâmica da fé, São Leopoldo:
Sinodal, 1996, p. 5.
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