A Ilusão do ego
Por Teol. Leônidas Almeida
Pois, "toda a humanidade é como a relva, e toda a sua glória,
como a flor da relva; a relva murcha e cai a sua flor, 1Pd 1.24
O texto, ora exposto,
trata-se de uma citação que serve para contrastar a transitoriedade da vida
humana e o engano que provém do orgulho
humano, que passa a viver alienado do criador, conforme profetizou Isaias há cerca de 700 AC da
seguinte forma: " Uma voz ordena: "Clame". E eu
pergunto: "O que clamarei? " "Que toda a humanidade é como a
relva, e toda a sua glória como as flores do campo. A relva murcha e cai a sua flor, quando o vento do Senhor
sopra sobre eles; o povo não passa de relva. A
relva murcha, e as flores caem, mas a palavra de nosso Deus permanece para
sempre. " Is 40.6,7,8
Recordo um filme do início dos anos 90,
Uma Segunda Chance, estrelado por Harrison Ford, o qual desempenha o papel de
um frio e talentoso advogado de sucesso de uma grande empresa, utilizando
artifícios não republicanos, para obter riqueza e poder a qualquer preço.
Apesar de possuir uma família
aparentemente equilibrada e religiosa a realidade vivida nos bastidores do lar
era bem diferente. Extremamente rígido com sua filha adolescente e um
relacionamento conjugal superficial com sua esposa. Assim Henry (H Ford) trata
a todos, da sua empregada doméstica até sua secretária particular, como meros
objetos, pois sua vida é fundamentalmente centrada em si mesmo numa forma de
egoísmo manipulador.
Porém toda sua vida é repentinamente
transtornada quando, numa noite, vai até um minimercado comprar cigarros e ao
chegar ao local é surpreendido por um assalto em andamento. Henry e sua forma
orgulhosa em lidar com as pessoas com extrema distância e frieza, acaba armando
uma armadilha para si próprio, pois não dá a mínima para o assaltante, que em
decorrência disto toma um tiro. Henry sobrevive, mas perde sua memória e sua
capacidade de locomoção.
Em seguida Henry recebe os cuidados de
um fisioterapeuta, que o faz recuperar gradativamente suas atividades físicas
bem como passa a lhe repassar valores a respeito do verdadeiro significado da
vida. Em casa, aos poucos, Henry inicia a reconhecer a si mesmo e o engano da
vida que levara, busca reatar seus relacionamentos quebrados, mulher e filha, e
sua vida passa então a ser reconstruída passo a passo.
Neste processo Henry percebe o quanto
que deixou de viver uma vida plena e verdadeira ao fazer opção pela ilusão
decorrente do egoísmo e quanto isso prejudicou seus relacionamentos com as
pessoas que verdadeiramente o amavam.
O teólogo Paul
Tillich observa que o ser humano é tentado a transformar-se "existencialmente
em centro de si mesmo e de seu mundo". Segundo Tillich, é na totalidade de
seu ser pessoal que o ser humano se torna centro do seu mundo. "Isso é sua
hybris"; é isso que se chamou de "pecado espiritual", cujo
principal sintoma é o fato de serem como Deus e todos agem de acordo com isso
em sua auto-avaliação e auto-afirmação. Enfatiza Tillich que "ninguém está
disposto a reconhecer, em termos concretos, sua finitude, sua fraqueza e seus
erros, sua ignorância e sua insegurança, sua solidão e sua angústia". Assim
todo indivíduo em algum momento ou por todo período da vida incorre no engano
de sua hybris.
Neste processo de
auto ilusão, ensina Tillich que existe "uma estrutura demoníaca que impele
o ser humano a confundir a sua auto-afirmação natural a auto-elevação
destrutiva. A resposta divina à hybris
cultural é a desintegração e decadência de todas as grandes culturas no
transcurso da história". Face a este processo de auto-ilusão vale a
exortação do profeta Isaías: "Porque
o dia do SENHOR dos Exércitos será contra todo o soberbo e altivo, e contra
todo o que se exalta, para que seja abatido"; Is 2.12
Se você as vezes é
tentado a se achar como sendo "O Cara" "O Indispensável", o
escritor Charles R. Swindoll ensina que você não é indispensável. Nem eu.
Ninguém é indispensável, exceto o Senhor Jesus Cristo. Ele é o líder. É o
Número Um. É o fundador. É o primeiro lugar. Quando ele move alguém e o
substitui por outro, ou quando remove alguém e estabelece outro, é ele quem dá ordens.
Esse é seu direito soberano. O problema surge quando começamos a pensar que nós
somos soberanos. Meu amigo, ele o colocou onde queria que estivesse. Foi ele
quem lhe deu esse emprego. Ele pode tirar tão depressa quanto dá. Portanto,
faça fielmente seu trabalho, seja modesto e exalte a Cristo.
O Evangelho proposto
por Jesus deixou a ordenança do "fazei discípulos". Então precisamos
entender que existe um ciclo, portanto ninguém deve se perpetuar na fase da
flor, pois certamente o próprio tempo fará com que esta flor caia, pois a
primavera da vida passa. Tentar se manter a todo custo no controle é
desgastante e compromete o processo natural de renovação e ainda pode corromper
toda uma biografia de vida, pois para aqueles que confiam no Senhor sabe o que ele
tem reservado para cada um de nós é bem maior que as ilusões transitórias desta
vida, ainda que aparentemente sejam nobres e boas.
O próprio Moisés, considerado o grande
líder do deserto, o libertador do povo escravo do Egito, mesmo tendo visto a
glória do Senhor, teve que colocar um véu no rosto na tentativa inútil para que
o seu povo não percebesse que a glória refletida no seu rosto desvanecia. Que o Senhor nos ajude a mantermos fiéis a
sua palavra, esta sim permanece em nós e ainda que nosso corpo físico se
desvaneça, porém nossa vida espiritual é continuamente renovada e "segundo
a sua imagem estamos sendo transformados com glória cada vez maior, a qual vem
do Senhor, que é o Espírito". 2Co 3.18b.
"Você anda pelas ruas sem respostas enfim,
Mas a fé que eu tenho em Deus Me faz ver o que sou, nunca fugir de mim" Kim
Cotidiano - Catedral
Vale a pena ver de novo - Clipe "Uma Segunda Chance"
Notas Bibliográficas
TILLICH, Paul. Teologia sistemática -
São Leopoldo. Sinodal, 2005.
SWINDOLL Charles R. Série Heróis da Fé
- Moisés - São Paulo. Mundo Cristão, 2000.
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