O Natal de Pastores e Magos retomando seus significados
Por Teol. Leo Almeida
Uma cena que salta aos olhos na leitura dos evangelhos sobre o nascimento de Jesus é o fato de que, logo após Maria ter dado a luz, provavelmente numa circunstância de emergência, prontamente José, seu esposo, saiu com ela apressadamente a procurar ajuda e deixa-la num local mais apropriado para o nascimento da criança. Neste percurso nasceu Jesus. José embora pertença à linhagem do famoso Rei Davi, motivo pelo qual se encontrava na região da Judéia, para cumprimento de um alistamento decretado por César, porém não conseguiu uma acomodação adequada para que sua mulher estivesse um parto mais confortavel e seguro. Assim o Natal de Jesus denuncia uma sociedade não solidária com o próximo, aqui e ali vemos este tipo de notícia nos dias de hoje, a falta de atendimento médico-hospitalar adequado para crianças e mães que não dispõem de recursos. Não havia lugar para o filho de Deus naquela localidade e por isso o menino ainda envolto em panos permaneceu numa manjedoura, o quadro do presépio de Natal é lindo, mas carrega o sentido da rejeição, insensibilidade, e denuncia a falta de solidariedade numa sociedade que não sente a dor do próximo bem como o descompromisso do estado com seu povo.
Nesta cena de exclusão, foi o momento propício para atuação dos anjos, os quais não procuraram os religiosos, as autoridades e governantes do local, mas aos pastores de ovelhas que estavam passando a noite nos campos. A estes foi anunciado a respeito de uma boa notícia, e por isso seria motivo de grande alegria também para todo o povo, pois naquele instante acabara de nascer na cidade de Davi, o salvador de todo o povo, o Messias, porém estava numa simples manjedoura, um local improvável para o surgimento de um Rei, inadmissível para as elites e autoridades religiosas.
Aquelas pessoas simples não duvidaram, pois poderiam pensar: Como um Rei poderia nascer numa estrebaria? Como o Messias nasceria num local indigno ao ser humano? Que tipo de Salvador é este que nasce no local inadequado para seres humanos em meio aos animais? Os simples pastores não duvidaram e muito menos discriminaram, e saíram imediatamente cantando hinos de louvor a Deus, dizendo: Glória a Deus nas maiores alturas do céu! E paz na terra para as pessoas a quem ele quer bem! A estes simples pastores lhe foram revelados o mistério da natividade, o verdadeiro mistério do natal, que ocorre muito distante do poder econômico, das instituições religiosas alienadas da simplicidade do evangelho, portanto a estes pastores lhe foram revelados os grandes mistérios do Natal. Será que este Natal para você será somente o Natal do consumo, da capacidade de adquirir mais e mais poder, ou será o Natal da humildade e da fé simples experimentada pelos pastores da Galileia, será o Natal da inclusão ou da exclusão, será o Natal da religiosidade aparente ou do amor engajado? Qual será o nosso Natal? Que o filho de Deus produza um novo sentido do Natal em nós.
Outra cena ocorre de forma aparentemente contraditória a tudo que acabei de descrever. Os reis Magos entram em cena, surgiram do nada, apenas considerados homens que estudavam as estrelas e que vieram do Oriente. A meu ver ocorre uma quebra de paradigmas, pois cabia aos profetas o conhecimento a respeito da vinda do messias, no entanto as condições humildes em que o menino nasceu cegaram o entendimento daquelas elites e lideranças eclesiásticas locais, apesar de todo conhecimento das Escrituras, tais religiosos não foram capazes de perceber o momento da vinda do messias. Uma liderança política, certa vez resolveu colocar roupas bastante humildes e foi assistir um culto na igreja que ela mesma frequentava, apesar de toda preparação teológica daquela comunidade, esta foi barrada por um fiel que prestava serviço no templo.
Nesta cena os Magos, são pessoas importantes, possuidores de bens, podemos dizer que também são intelectuais, pois conheciam o movimento e a dinâmica dos corpos celestes, profundos observadores, faziam parte da comunidade científica da época, assim o possuir bens e conhecimento não condicionavam suas vidas prioritariamente. O fato de estarem com os olhos fitados para cima, abriram suas mentes e espírito para o que estava ocorrendo aqui embaixo, sua espiritualidade é dinâmica, não intimista e apenas contemplativa, ocorria na práxis, um tipo espiritualidade não dirigida pelos rumos do poder nem ditada pelos modismos da mídia, uma espiritualidade que era revelada durante o caminho, pois seguiam a estrela, e a estrela ia adiante deles, e como os pastores, não titubearam ao perceberem que algo realmente extraordinário estava ocorrendo.
Os Magos chegam ao rei Herodes e perguntam: Onde está o menino que nasceu para ser o rei dos Judeus? Nós vimos a estrela dele no Oriente e viemos adorá-lo. Herodes permanece incrédulo e ao mesmo tempo surpreso por aqueles questionamentos. Herodes então deve ter ponderado: Estes caras são verdadeiros malucos, um tipo de hippies modernos. Como poderia nascer um rei aqui e eu não ter obtido esta informação por meio dos meus agentes especiais? Isto deve ser algum tipo de ideia plantada pela oposição, caso esta notícia espalhe, pode me trazer problemas e surgir uma primavera democrática por aqui e fazer conhecido meus malfeitos e comprometer minha permanência no poder.
Então Herodes após uma reunião com seu conselho de segurança ministerial a respeito do fato, fica atemorizado e depois despacha os Magos, mesmo duvidando de sua história astro louca, lhes pedem: Caso encontrem o menino que me avise, para que eu também possa ir adorá-lo. Que tipo de Natal será o nosso? Sobre aquelas questões profundas que leva nada a lugar nenhum? Apenas mais um Natal dos corais e grandes musicais nas cidades iluminadas? Será o Natal da meditação do significado de Jesus em nossas vidas? Que tipo de Natal verdadeiramente ansiamos? Uma amiga chegou a me confidenciar que o Natal para ela é um periodo de muita tristeza e depressão, para ela o Natal perdeu seu significado.
Uma vez ao ser convidado a participar numa reunião de oração em determinada Igreja, tive um sonho no dia anterior aquela reunião. Vi uma linda mulher numa cadeira meditando consigo mesma, aparentemente estava tudo normal, porém ao me aproximar dela vi que não possuía pernas, estava imobilizada. Talvez seja esta a condição de muitas pessoas que possuem até uma boa compreensão do evangelho, porém lhes falta a dinâmica do Espírito. Que neste Natal, sejamos como os Magos, sigamos a estrela e durante a caminhada sejamos iluminados para um verdadeiro encontro com menino Jesus, pois só assim algo extraordinário poderá ocorrer em nossa vida.
Os Magos mantém firme seu propósito de encontrar o menino, a fé continua viva em suas mentes e corações, e durante o caminho voltam a ver a mesma estrela que tinham visto anteriormente no Oriente, foram reanimados e ficaram alegres e felizes. O sentido da alegria do Natal deve ser primeiramente a renovação da fé no messias, a fé que traz sentido a nossa caminhada de vida, entendendo que nossos caminhos deve sempre produzir um encontro com o Salvador, e não somente com bens, dinheiro e poder.
Ao avistarem o menino Jesus ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra. Assim os Magos entendem que o verdadeiro Natal deve apontar para o significado deste encontro, a necessidade do reconhecimento de Jesus como Rei, que somente a ele deve ser depositada nossa esperança ultima de vida neste mundo e no porvir e não nas ilusões transitórias desta nossa existência. Também devemos dirigir a ele nossas orações como incenso suave, que certamente chegará ao trono do Rei, e desenvolver um estilo de vida simples e sem ansiedade. Por fim, somente a ele daremos nossa profunda adoração, a mesma atitude que a mulher pecadora teve ao derramar o perfume aos pés de Jesus e tê-lo adorado acima de todas as coisas e principalmente pelo perdão concedido a mesma para uma nova vida transformada e plena de sentidos.
Feliz Natal, que o Senhor tenha misericórdia de nós, renovando nossa fé a fim de vivermos o sentido pleno do Natal, pois assim também passaremos a perceber os milagres extraordinários de Deus por nós e através de nós.
Curta este clássico da música cristã que trata do sentido do natal e reune gerações do VPC - "Nas estrelas".
Textos de Referencia: Mt 2.1-12 e Lc 2.1-20
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