TEMPO DE POESIA


Por Leônidas Almeida



 

 
"Há um tempo para tudo e cada coisa
tem, debaixo do céu, o seu momento."

Nasci em tempo de poesia. A morte
espero que também seja em seu tempo.

Há tempos que não tive e não terei:
matar e destruir e atirar pedras,
tempos para odiar e fazer guerra.

Procuro, quando encontro as coisas más,
curar, edificar, juntar as pedras,
fazer do ódio, amor; da guerra, a paz.

O que plantei (e apenas plantei flores)
não arranquei. Talvez o vento arranque.
Mas serão, outra vez, suas sementes
outras plantas iguais com novas flores
iguais, em qualquer ponto sobre a terra:

Outros tempos marcados de contrastes
(chorar e rir; gemer, dançar; o abraço
e o afastar-se de abraçar; a busca
e a perda) são os trâmites da vida
por onde passas e por onde eu passo.

Tempos para guardar e atirar fora
outros têm, não eu, que apenas tenho
a partilha do pão de cada dia.

De rasgar e coser tenho os dois tempos
num só – cíclico e prático sistema:
rerrasgar, recoser o mesmo pano...

Em calar e falar: o tempo, e o tema
que a ninguém cause espanto ou cause dano.

Tempos de se esperar ou de escolher
são esses, de vivência interrompida.

Só seu tempo imutável, sob o céu,
tem quem nasce poeta. Embora inútil,
tempo de poesia é toda a vida.


Autor: Maria Braga Horta

Título: do livro de poesia de Edison Moreira
Motivo: Eclesiastes, 3


"O Tapeceiro" de Stênius Marcius, um lindo poema cantado, vale a pena conferir..Bom final de semana.

 



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