GERAÇÃO INSENSÍVEL


Por Teol. Leônidas Almeida



"A que posso comparar esta geração? São como crianças que ficam sentadas nas praças e gritam umas às outras:  ‘Nós lhes tocamos flauta, mas vocês não dançaram; cantamos um lamento, mas vocês não se entristeceram’. Pois veio João, que jejua e não bebe vinho, e dizem: ‘Ele tem demônio’. Veio o Filho do homem comendo e bebendo, e dizem: ‘Aí está um comilão e beberrão, amigo de publicanos e "pecadores" ’. Mas a sabedoria é comprovada pelas obras que a acompanham". Jesus Cristo. Evangelho de Mateus Cap.11.16-19

Hoje faz sete dias que acordamos estarrecidos, parece um filme daqueles que ninguém acredita que possa ocorrer, mas a realidade é dura e difícil de absorver, não tem explicações é cruel demais. O total de mortos na boate de Santa Maria, segundo Veja, chega cifra trágica de 237 pessoas, na sua grande maioria de jovens universitários, sendo que ainda estão internadas 118 vítimas, das quais 74 delas em estado gravíssimo.

A minha pergunta para todos nós cristãos de diversas denominações religiosas é a seguinte: O que temos com isso? O que podemos fazer na condição de filhos de Deus em relação a este episódio? Quais as repercussões deste fato para nossas vidas como cristãos e também como cidadãos?

Diante deste fato é triste ver comentários nas redes sociais de pessoas de forma insensível comentarem: "Ainda bem que eu e minha família não vamos em boates", "trata-se de juízo Divino", "isto é os sinais dos fins dos tempos e por ai vai".

Quando no antigo testamento ocorria uma tragédia na comunidade todos eram chamados ao lamento, a refletir sobre a desolação, a compreender o sentido da unidade na adversidade,  "Contem o que aconteceu aos seus filhos, e eles aos seus netos, e os seus netos, à geração seguinte. O que o gafanhoto cortador deixou o gafanhoto peregrino comeu; o que o gafanhoto peregrino deixou o gafanhoto devastador comeu; o que o gafanhoto devastador deixou o gafanhoto devorador comeu. Pranteiem como uma virgem em vestes de luto que lamenta pelo noivo da sua mocidade. Jl 1.3,4,8.

Diante das tragédias o povo era chamado a buscar a Deus, refletir sobre sua fé e sua forma de conduzir a vida em comunidade, ocorria um tipo de convocação geral das autoridade políticas, religiosas e lideranças comunitárias, afim de vivenciar os fatos ocorridos e produzir processos de mudanças interiores e a nível comunitário. Era um momento de busca e não apenas de tentar elaborar explicações racionais, filosóficas ou mesmo teológicas para a realidade dos fatos.

Enfim ocorria um processo que hoje poderíamos denominar de avivamento espiritual que refletia na vida cotidiana do povo. "Ponham vestes de luto, ó sacerdotes, e pranteiem; chorem alto, vocês que ministram perante o altar. Venham, passem a noite vestidos de luto, vocês que ministram perante o meu Deus; Decretem um jejum santo; convoquem uma assembléia sagrada. Reúnam as autoridades e todos os habitantes do país no templo do Senhor, do seu Deus, e clamem ao Senhor. Jl 1.13-14

Infelizmente parece que estamos como esta geração insensível denunciada por Jesus onde produzimos o velho jargão "a vida continua irmão". ‘Nós lhes tocamos flauta, mas vocês não dançaram; cantamos um lamento, mas vocês não se entristeceram’. Insensíveis ao sofrimento do outro, porém dado ao julgamento precipitado do que ao chamamento de todos ao lamento e a solidariedade. "Pois veio João, que jejua e não bebe vinho, e dizem: ‘Ele tem demônio’. Veio o Filho do homem comendo e bebendo, e dizem: ‘Aí está um comilão e beberrão, amigo de publicanos e "pecadores".

Como cidadão penso que devemos cobrar das autoridades a apuração do fato, mas não somente isto, que de uma vez por todas ponha fim no "jeitinho brasileiro" e que estabeleça protocolos de segurança rigorosos em eventos que envolva muitas pessoas, se um simples extintor de incêndio tivesse funcionado quando acionado no início das chamas, certamente esta tragédia não teria ocorrido. Por outro lado padecemos de um tipo de amnésia doentia, com o passar do tempo as coisas voltam a ser como eram, ressalto aqui a advertência deste tipo de amnésia denunciada pelo profeta diante das calamidades: "Contem o que aconteceu aos seus filhos, e eles aos seus netos, e os seus netos, à geração seguinte". Só desta forma podemos pressionar constantemente as autoridades que mudam de discurso a cada eleição.

Como cristão avalio que as comunidade de fé devem refletir sobre a abertura de espaços alternativos para que os jovens possam se divertir de forma saudável. Aqui faço justiça para algumas comunidades de fé que tem aberto este tipo de espaço aos jovens e adolescentes ao invés das igrejas estritamente apegada aos rendimentos lucrativos que obtém dos fiéis. Lembro que nos anos 70, minha geração, as festas ocorriam nas casas, num ambiente familiar e grandes eventos ocorriam nos clubes e salões, ou seja, em locais apropriados para este tipo de evento. Eram espaços que os jovens se comunicavam, enamoravam e muitos casais se formavam em decorrência destes eventos. Será que sou um sonhador? Não teria como viabilizarmos este tipo de convivência festiva mais humanizada, ao invés dos ambientes fechados, onde alguns são embalados ao ecstasy e músicas ritimizadas na batida constante, ensurdecedora, a antimúsica de uma nota só. Que o Senhor tenha misericórdia de nós.

"Palavras que amparam" Edilênio













Comentários

  1. É cruel sabermos de tamanha tragédia com inter-rompimento de tanta gente nova e cheia de vida. Parece inacreditável.

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